A Luneta Âmbar - Fronteiras do Universo, 3 - Philip Pullman

Título: A Luneta Âmbar
Autor: Philip Pullman
Páginas: 504

Ano: 2017
Editora: Suma de Letras
Gênero: Fantasia, Infanto-Juvenil
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon
Nota:   

Sinopse: Em todos os universos, forças se reúnem para tomar um lado na audaciosa rebelião de lorde Asriel contra a Autoridade. Cada soldado tem um papel a desempenhar - e um sacrifício a fazer. Feiticeiras, anjos, espiões, assassinos e mentirosos: ninguém sairá ileso. Lyra e Will têm a tarefa mais perigosa de todas. Com a ajuda de Iorek Byrnison, o urso de armadura, e de dois minúsculos espiões galivespianos, eles devem alcançar um mundo de sombras, onde nenhuma alma viva jamais pisou e de onde não há saída. Enquanto a guerra é travada e o Pó desaparece nos céus, o destino dos vivos - e dos mortos - recai sobre os ombros dos dois. Will e Lyra precisam fazer uma escolha simples, e a mais difícil de todas, com consequências brutais. A Luneta Âmbar é o último livro da trilogia Fronteiras do Universo, que teve início com A Bússola de Ouro e A Faca Sutil. Uma conclusão emocionante, que leva o leitor a novos e fantásticos universos.

Resenha:

O mundo está se movendo. Ou melhor, os mundos. Depois de uma separação de todos os personagens no segundo livro da trilogia, temos em A Luneta Âmbar diversos arcos criados.

Lyra está em uma planície com a Sra. Coulter. A garota permanece embriagada por um sono hipnotizante e, com isso, se torna refém da própria mãe e do seu daemon odiado, o macaco com pelos dourados. Ao seu lado, Pantalaimon também está adormecido e juntos não fazem ideia do que se passa nos mundos ou à sua volta. Lyra tem sonos estranhos com seu amigo Roger, e a angústia cresce em seu peito. Que mundo era aquele que a criança estava? E, o mais importante, o que Roger tenta dizer a Lyra quando conversam?

"O cabelo de Lyra estava úmido, seus olhos se moviam atrás das pálpebras cerradas. Ela estava começando a despertar: a Sra. Coulter tinha sentido seus cílios se mexerem quando a beijara e sabia que não dispunha de muito tempo antes que Lyra despertasse totalmente. [...] Os lábios de Lyra se entreabriram e ela gemeu baixinho, Pantalaimon se aconchegou mais junto de seu peito. Os olhos do macaco dourado não se descolavam do daemon de Lyra. [...] A mulher levantou a filha com delicadeza de modo que seus ombros saíssem do chão e a cabeça balançou ligeiramente. Então Lyra respirou fundo e seus olhos se entreabriram, piscando pesados.

—  Roger — murmurou. — Roger... onde está você... não consigo ver..."

Iorek, o urso-rei, percebe que seu mundo está mudado. As geleiras, tão importantes para os ursos de armadura, estão derretendo e o rei percebe que em breve eles não poderão contar com comida e refúgio. Além disso, Serafina Pekkala, a rainha do clã de bruxas e amiga pessoal de Lyra, vai de encontro ao rei para dar uma notícia ruim: seu amigo balonista está morto. Com todas essas informações, Iorek decide abandonar o norte e ir para o sul a pedido de Serafina e de quebra tentar um novo mundo para seu povo. Mas antes Iorek precisa se despedir de alguém, e ajudar uma garota.

"Serafina Pekkala chorava ao voar pelos céus turbulentos do Ártico. Chorava de raiva, de medo e de remorso: raiva da mulher Coulter, a quem havia jurado matar, medo do que estava acontecendo com sua terra adorada, e remorso... Bem enfrentaria o remorso mais tarde. Enquanto isso, olhou para baixo, para a calota polar que se derretia, para as florestas das terras baixas, inundadas, para o mar alto, volumoso, e sentiu o coração se contrair angustiado. Voou rumo ao norte e ainda mais para o norte, entrando nos nevoeiros e ventos cortantes que cercavam Svalbard, o reino de Iorek By rnison, o urso de armadura. Mal reconheceu a ilha principal. As montanhas estavam nuas e enegrecidas, e apenas alguns vales escondidos voltados contra o sol ainda conservavam alguma neve em seus cantos de sombra. [...] A natureza inteira estava enlouquecida."

Will está procurando por Lyra na companhia de dois anjos de posições baixas. Balthamos e Baruch seguem o garoto para onde ele for, mas o objetivo dos seres angelicais é levá-lo a Lorde Asriel, onde Will poderá fazer bom uso de sua faca. Will não quer, ele precisa encontrar Lyra primeiro. Não há muita alternativa para os anjos: a teimosia de Will é surpreendente. Fazendo janelas e cortando mundos, o trio irá encontrar muito obstáculos até chegar à garota.

"E menos de dez minutos depois o som suave de asas batendo chegou aos ouvidos deles e Balthamos se levantou ansioso. No instante seguinte os dois anjos estavam se abraçando e Will, contemplando as chamas, observou a afeição mútua dos dois. Era mais que afeição: eles se amavam apaixonadamente. [..] Will mexeu no fogo, de maneira que uma nuvem de fumaça subisse e passasse pelos dois. A fumaça teve o efeito de delinear seus corpos, de modo que pôde vê-los claramente pela primeira vez. Balthamos era esguio, as asas estreitas dobradas elegantemente atrás dos ombros, e seu rosto tinha uma expressão que mesclava desdém arrogante com uma terna e ardente simpatia, como se ele fosse capaz de amar todas as coisas se sua natureza lhe permitisse esquecer seus defeitos. Mas ele não via defeitos em Baruch, isto era evidente. Baruch parecia ser mais jovem, como Balthamos dissera que era, e era mais forte de constituição, as asas brancas como neve e maciças."

Em sua fortaleza, Lorde Asriel continua reunindo suas forças para chegar ao seu objetivo, meio alheio a tudo o que se passa à sua volta e às consequências de sua teimosia em quebrar os eixos do mundo. Cada mundo responde a isso de alguma maneira. Ao seu lado, ele conta com a ajuda de vários seres, dentre eles os teimosos galivespianos, seres pequeninos que trabalham como espiões e montam libélulas como se fossem cavalos.

"— Se o reino nos invadir, é melhor estarem prontos para a guerra, porque estamos preparados. Sra. Coulter, eu sou um rei, mas o feito de que mais me orgulho foi me unir a Lorde Asriel para criar um mundo onde não existam quaisquer reinos. Um mundo sem reis, sem bispos, sem padres. O reino do céu tem sido conhecido por este nome desde que a Autoridade pela primeira vez se colocou acima do resto dos anjos. E não queremos ter nada disso. Este mundo é diferente. Pretendemos ser cidadãos livres da república do céu."

Em contrapartida, temos dois polos poderosos e religiosos brigando: o Conselho de Oblação e o Tribunal Consistorial lutam pelo poder e pelo controle de algo que poderá mudar o mundo. Lyra é mencionada em reuniões, a faca de Will também. Um padre recebe uma missão muito importante e parte com apenas uma ideia na cabeça: assassinato.

"— Não consigo me lembrar com exatidão das palavras da bruxa — disse Frei Pavel, em tom fatigado. — Nunca tinha presenciado tortura antes, conforme já expliquei ao Tribunal ontem, e descobri que me deixava tonto e nauseado. [...] A bruxa disse que a menina Lyra tinha sido reconhecida pelos clãs do norte como aquela que realizaria uma profecia de que tinham conhecimento há muito tempo."

Mary anda a ermo a procura de algo satisfatório, quando vê uma pequena janela pairando em cima de uma rocha. Sua curiosidade vence e ela pula, deparando-se com um mundo completamente diferente. Lá, grandes nozes são valiosíssimas e um povo que enfrenta dificuldade irá acolhê-la e ensinar sua cultura. 

"Havia cerca de uma dúzia deles. Tinham mais ou menos o mesmo tamanho dos animais que pastavam, mas eram mais esguios e de cor cinza, com chifres na cabeça e trombas curtas como as de elefantes. Tinham a mesma estrutura em formato de losango que os outros, mas de alguma forma haviam evoluído, nas patas isoladas da frente e de trás, tinham uma roda."

Sim, são esses os arcos inicias do livro. Eu não preciso nem dizer que, se os leitores acharam os dois primeiros livros confusos e cansativos, o terceiro será ainda mais. Não pela dificuldade em ler, mas pela falta de necessidade de criar personagens ainda mais complexos e inserir no último livro de uma trilogia. Você se pergunta se alguns deles são realmente necessários, e sentem falta de outros. Serafina Pekkala não possui tanto destaque nesse livro, nosso rei-urso faz uma passagem importante, mas também some. Enquanto isso, o arco da Mary fica cada vez mais enjoativo e chato para se ler.

Como leitora assídua de fantasia, é muito triste dar três estrelas no livro final de uma trilogia, mas os dois primeiros constroem uma história complexa, e você espera com que o último feche essa história e explique tudo. Bom, Philip Pullman até consegue explicar muitos pontos no livros, mas a maioria fica em aberto, ou pior, a explicação se torna insuficiente.

Para mim, o arco de Will e Lyra é sempre o melhor, pois são os personagens principais. Mas eu me apeguei aos personagens do primeiro livro, e não tive muito ânimo quando vi que eles deixaram as páginas. Enfim, A Luneta Âmbar cumpre o que promete, querendo ou não, o final é surpreendente e até mesmo incomum, mas eu esperava mais de Fronteiras do Universo quando peguei os livros para ler.

E ah! Antes que vocês desistam: sobre pontos positivos, a mitologia daemon é ainda mais explicitada nesse livro e se torna ainda mais encantadora. Você acha que não possui um daemon? Olhe dentro de você... E depois você vem aqui me contar...