Arrufos: Desavenças de Amor - Caroline Salignac

Título: Arrufos: Desavenças de Amor
Autor:  Caroline Salignac
Páginas: 360
Ano: 2020
Editora: Grupo Editorial Portal
Gênero: Romance de Época
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon
Nota:     

Sinopse: Rio de Janeiro, 1870. Os jovens aristocratas, Cecília Caldas e Jorge Candido, tinham o hábito de apostar, sem se importarem em manipular a vida alheia. Uma nova aposta se formou quando as habilidades de casamenteira de Cecília foram questionadas. Ela acreditava ser capaz de fazer Maurício Santiago, o mais carrancudo do grupo de amigos, se casar antes do final do ano, enquanto Jorge acreditava ser impossível. Após firmarem a aposta, Jorge organizou um baile às avessas, fora de temporada, convidando as famílias mais desfavorecidas e indelicadas da Corte, a fim de fazer com que o amigo evitasse os convites futuros de Cecília. No meio das convidadas, solteironas e feias, apareceu a irreverente Amélia Monteiro, uma jovem de convicções fortes e absurdas para a época, que não estava interessada em se casar. Após o baile, Cecília teve a convicção de que havia achado na solteirona a pretendente ideal para desposar o amigo. Ela só não poderia prever uma coisa: Amélia e Maurício simplesmente não conseguiam se entender e viviam em pé de guerra.

Um livro obrigatório para quem gosta de romance de época. 

Resenha: O ano é 1870. Há bailes onde a aristocracia faz o seu cardápio, as meninas que não são casadas procuram por maridos enquanto comem quitutes e comentam o tecido inapropriado dos vestidos das outras, os homens usam cartolas e alguns fumam charutos nas varandas das grandes casas. Há o grupo das solteiras, mulheres não tão bem quistas na sociedade, algumas fazem parte de escândalos e ideais que não condizem com sua posição.

Familiar? Não estamos falando de outra história de romance de época que se passa em Londres. Estamos falando de Arrufos, romance de estreia da autora nacional Caroline Salignac, que foi lançado em 2020 pelo Grupo Editorial Portal, pelo selo Reino, exclusivo para livros desse gênero.

O ano é 1870, mas a cidade é Rio de Janeiro, a época conhecida também como como “a era Mauá”. Nas ruas, mulheres passam com suas sombrinhas, parte para evitar o sol, pois poderiam ficar com a pele escura como as dos negros ou descendentes indígenas, parte para sustentar mais um acessório de moda. Tílburis, Vitórias, Cupês e Diligências são puxadas por cavalos e percorrem as ruas com os aristocratas ou qualquer um que tivesse a condição de alugar esse meio de transporte. Em meio a essa confusão da grande cidade, pajens correm com suas canelas finas e moedas no bolso para fazer entregas e pequenos serviços. Reconhece as palavras? Acredito que não...

E é por isso que Arrufos, o livro que vou resenhar hoje, é um banho da nossa cultura e obrigatório para quem ama romance de época.

Os jovens aristocratas Cecília Caldas e Jorge Candido parecem ser muito diferentes um do outro. Ceci é uma pessoa que tem como compromisso organizar bailes e festas, visitar as amigas enquanto comem uma fatia de bolo de laranja e fofocam sobre o último casamento da corte. Jorge Candido é um homem sagaz, com um humor e sorriso felinos, anda pela cidade com dois cachorros em seus calcanhares. E é apaixonado por Cecilia. Eles tem algo em comum: uma aposta.

Cecília e Jorge estão determinados a brincar com o destino de Maurício Santiago, um amigo em comum, que possui um jeito taciturno e é herdeiro de uma fortuna considerável, terras em outras cidades e carrega muitos segredos que o fazem ser discreto. Cecília quer casá-lo antes do final do ano, Jorge faz de tudo para isso não acontecer.

Em meio a essa louca aposta, Jorge decide fazer um baile e convida todas as mulheres menos afortunadas e com ideias duvidosas com o intuito de apresentá-las a Maurício e enfiá-lo em uma brincadeira de mal gosto para irritar Ceci. No baile, podemos ver mulheres que não fazem parte da aristocracia carioca, mulheres que já passaram da idade de casar, mulheres que não tem um padrão de beleza elevado como o de Cecília Caldas. Entre essas mulheres, está Amélia Monteiro.

"Casar por dinheiro é como viver em uma gaiola e ser alimentada por uma mão desconhecida."

Amélia é uma garota de ideais fortes e com uma língua que não cabe dentro da boca: ela acha que há coisas melhores do que um casamento que visa apenas um dote, questiona e odeia a escravidão de uma sociedade hipócrita que chibata um negro mas frequenta as missas dominicais. Amélia adora desenhar, e não importa se o seu modelo será uma escrava ou uma aristocrata, ela gosta de sentir a grama verde sob seus pés e acha que gastar dinheiro com vestidos é uma perda de tempo. E, o mais importante e o que deixa essa história impossível de não ser devorada: ela odeia Maurício Santiago.

"Você vale muito mais do que apenas um acessório de beleza nas mãos de homens ricos como o Sr. Leite. Digo uma coisa, mulheres usam diamantes e homens usam mulheres!"

Os dois começam com o pé esquerdo, ele se irrita com a língua afiada dela e com os modos nada discretos, já ela, acha Maurício um homem de nariz empinado e que não se difere dos que estão nos grandes grupos a qual é convidada. Por quê esse interesse repentino de Cecília Caldas por ela? Não vê que ela não tem nada em comum com o grupo que a amiga do Sr. Santiago anda? E por que Jorge Candido faz de tudo para deixá-la exaltada e não gosta da sua presença?

"A alienação feminina é incentivada pela sociedade, além da obsessão por matrimônio! Sinceramente, toda mulher deveria saber que há mais coisas entre bailes e vestidos do que pode sonhar sua vã filosofia."

Ao lado de Amélia, podemos ver sua amiga Inocência, que consegue ser ainda mais convicta de suas opiniões fora do comum e colocar medo até mesmo em Jorge Candido. Inocência é a mulher que toda leitora que gosta de uma personagem forte procura, e vocês vão amar as ideias que passam pela cabeça dessa jovem.

"O Sr. Santiago tinha um ponto fraco. Era o mais fraco dentre os homens, aquele que se localizava no meio das pernas "

 

Como não podia faltar em nenhum excelente livro de época, temos a mãe da personagem que sonha em casar suas filhas e achar os mais promissores maridos para esse fim.

"— Nada de criticar a sociedade, nem de falar sobre a condição dos escravos nem sobre as mulheres casadas! Não fale nada sobre a monarquia, todos querem que o imperador fique onde está, ouviu? Homens não suportam conversas!"

Durante essa briga de gato e rato, Maurício começa a ver o outro lado de Amélia. Ela é gentil com as pessoas, está mais preocupada com seu intelecto do que com sua aparência, e parece não suportar a falação sem fim das mulheres da corte. Amélia não suporta a companhia de Maurício, que parece estar em todos os lugares que ela visita, mas ver como ele rege as terras que são sua responsabilidade e como o vento bate em seu cabelo quando está sereno observando as paisagens de Ouro Preto...

O que será que vai acontecer? Quem ganhará essa aposta? Como pessoas tão distintas podem se sentir atraídas a ponto de se casar?

Não espere achar personagens que abanam leques e se derretem com libertinos nesse livro. Caroline Salignac foge desse clichê, já tão batido em romances de época. Não espere uma entrega fácil por parte do casal principal, há muitos obstáculos entre os dois, dentre eles o mais importante: o respeito. Também não espere a romantização da escravidão. Ela existia nesse período e, infelizmente, alguns personagens possuem os negros como propriedade, eles são vistos durante toda a narrativa de forma real e crua como era naquela época.

O livro possui versão física e digital, mas se quiser uma dica, compre a versão física, ela está linda! Com 360 páginas em papel amarelado, os capítulos possuem sempre uma frase resumo e a diagramação está condizente com um livro de época. O exemplar vem com marcador e button. 

Em meio a jardins característicos do Brasil, palacetes de homens poderosos, montanhas de uma cidade muito querida de Minas gerais, senhores escravocratas, discretos abolicionistas e mulheres tão fortes, Arrufos nos trás uma grande história de amor ambientada no Brasil Imperial e, de bandeja, você ainda ganha uma aula de cultura brasileira.

Tenho muito orgulho da Carol, que conseguiu nos presentear com essa obra belíssima e de pesquisa impecável! Me sinto honrada em fazer parte desse livro (fiz o copidesque quando a autora estava o desenvolvendo), e fiquei muito feliz quando o reli e revivi toda a história de Maurício Santiago e Amélia Monteiro!

"O amor é como uma feijoada. Uma mistura de tudo que é ingrediente, é forte e gostosa, mas depois a gente se arrepende de ter comido tanto"