A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes - Jogos Vorazes, 0.4 - Suzanne Collins

Título: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes 

Autor: Suzanne Collins

Páginas: 576
Ano: 2020
Editora: Rocco 
Gênero: Distopia 
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon
Nota:   

Sinopse: É a manhã do dia da colheita que iniciará a décima edição dos Jogos Vorazes. Na Capital, o jovem de dezoito anos Coriolanus Snow se prepara para sua oportunidade de glória como um mentor dos Jogos. A outrora importante casa Snow passa por tempos difíceis e o destino dela depende da pequena chance de Coriolanus ser capaz de encantar, enganar e manipular seus colegas estudantes para conseguir mentorar o tributo vencedor. A sorte não está a favor dele. A ele foi dada a tarefa humilhante de mentorar a garota tributo do Distrito 12, o pior dos piores. Os destinos dos dois estão agora interligados – toda escolha que Coriolanus fizer pode significar sucesso ou fracasso, triunfo ou ruína. Na arena, a batalha será mortal. Fora da arena, Coriolanus começa a se apegar a já condenada garota tributo... e deverá pesar a necessidade de seguir as regras e o desejo de sobreviver custe o que custar.

Resenha:

Snow cai como a neve!  

Olá leitores! Hoje vamos conversar sobre o polêmico prequel de Jogos Vorazes, que dividiu bastante a opinião entre os tributos, ansiosos para retornar à Panem. Muita gente não gostou, alegando que o livro é basicamente um amontoado de fan service. Mas o que será que eu achei, hein? Vamos ver! 

Na obra, conhecemos o jovem e brilhante Coriolanus Snow, que está ansioso para ser mentor da décima edição dos Jogos Vorazes numa medida desesperada de salvar o legado da sua casa, que está em decadência após a guerra entre os distritos que assolou a economia da Capital. O mentor cujo tributo for vencedor receberá a oportunidade de continuar com os estudos na Academia e ascender entre os nobres de Panem, logo Coriolanus está disposto a tudo para chegar ao topo.

Acontece que as perspectivas de ser bem sucedido nesse plano se tornam improváveis quando a tributo sorteada para ser mentorada por Snow é Lucy Gray, do decadente e impróspero distrito 12. A partir daí, o jovem entra em uma batalha interna à medida que vai se afeiçoando à peculiar menina fadada a morrer nesse jogo mortal. 

Eu peguei literalmente o auge da franquia Jogos Vorazes, lá em 2013. Com todo mundo ansioso pelo lançamento de Em Chamas no cinema, me vi completamente apaixonado pelos livros, e naturalmente, pelas adaptações literárias (só quem viveu a espera por cada trailer, pôster e spot sabe como foi uma época maravilhosa!).  E confesso que por conta disso fiquei ao mesmo tempo receoso e animado para conferir esse novo livro do universo. Suzanne Collins, que praticamente não precisa mais trabalhar depois do tanto de dinheiro que ganhou com a trilogia, fez uma decisão arriscada em criar um spin-off focado em um dos piores vilões da literatura, mas não é que deu certo? 

"Você não tem o direito de fazer as pessoas passarem fome, de puni-las sem motivo."

Coriolanus é um protagonista cativante e eu desafio a todos os leitores a não esquecer pelo menos por um segundo que se trata de um personagem que mais tarde vai ser o terror na vida da Katniss. Na sua juventude, o herdeiro da casa Snow era um menino cheio de vida, e muito inteligente. A comoção aumenta ainda mais porque no começo dos livros percebemos que a vida de Coriolanus é miserável. Juntamente com sua avó e Tigris, sua prima (sim, a mesma criatura felina que vemos em A Esperança), Snow passa por várias dificuldades, inclusive fome. É por isso que ganhar o prêmio de mentor representava para o personagem a chance de mudar de vida e ajudar sua família. 

Mas com o coração não tem como discutir né gente, e logo o jovem se vê perdidamente apaixonado por Lucy Gray, e aí as coisas se tornam muito complicadas. Assim como acontece com a maioria dos vilões, se torna claro que Coriolanus Snow foi perdendo sua humanidade com o tempo, e muitas vezes tentando fazer as coisas certas. O dilema entre ganhar o prêmio e de alguma forma tentar poupar Lucy Grey só foi fazendo com que o jovem ultrapassasse limites. 

"Coriolanus teve certeza que tinha visto seu primeiro tordo e detestou a criatura à primeira vista." 

Quanto aos Jogos em si, Collins conseguiu tornar completamente interessante o processo de criação dos mesmos, que eram muito diferentes da versão toda tecnológica apresentada na septuagésima quarta edição, mas desde sempre envolviam modificações genéticas em animais, divulgação dos tributos e práticas violentas. É notório que objetivo desse entretenimento era punir os distritos pela rebelião e controlar as pessoas, numa tentativa de evitar novas insurgências. 

O livro também conta com reviravoltas bem surpreendentes, nem todas relacionadas com os Jogos, que tomam boa parte do livro. Um pouco depois da metade, o cenário muda e temos a oportunidade de voltar ao distrito 12, onde acontecimentos cruciais (que estão diretamente ligados com a história de Katniss, aliás) acontecem com Coriolanus e Lucy Gray (essa uma personagem adorável, que tentava contornar a miséria da vida com música e arte). 

"Acho que existe uma bondade natural nos seres humanos. A gente sabe quando ultrapassou  o limite do mal e é nosso desafio de vida tentar ficar do lado certo dessa linha." 

É importante mencionar, contudo, que Suzanne Collins adora fazer o leitor de bobo, e alguns arcos foram encerrados de forma, digamos, inconclusiva. Além disso, senti falta de mais informações sobre Tigris. Em A Esperança, ela é retratada como uma estilista simpatizante dos rebeldes, porém aqui o livro se encerra sem sabermos como isso aconteceu, tampouco temos informações acerca de como ela se tornou uma mulher-tigre (característica essa que eu achei demais na primeira trilogia hahahahaha). 

Mas pela resenha vocês podem perceber que o livro não é construído apenas com elementos facilmente identificáveis da trilogia principal para hitar e conquistar os fãs. É óbvio que várias referências são encontradas, mas Collins soube como voltar a escrever sobre o universo de forma criativa e original, de modo que o resultado soa inovador e familiar ao mesmo tempo. Dessa forma, A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes só reitera o porquê de Jogos Vorazes ser um fenômeno mundial, proporcionando ao leitor a visão do outro lado e o entendimento que todo o mal é criado e moldado de alguma maneira. 

Até a próxima resenha!