A Faca Sutil - Fronteiras do Universo, 2 - Philip Pullman

Título: A Faca Sutil
Autor: Philip Pullman
Páginas: 288

Ano: 2017
Editora: Suma das Letras
Gênero: Fantasia Infanto-Juvenil
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon
Nota:    

Sinopse: Perdida em um mundo novo, Lyra Belacqua encontra Will Parry - um fugitivo que logo se torna um aliado mais que necessário. Pois este novo mundo é povoado por Espectros sugadores de alma, e no céu as feiticeiras disputam espaço com anjos. Will procura pelo pai, um explorador desaparecido há anos, e Lyra busca a origem do Pó. No entanto, o que os dois encontram é um segredo mortal e uma arma de poder absoluto, capaz de decidir o resultado na guerra que se forma ao redor deles. O que nenhum dos dois suspeita é do quanto suas vidas, seus objetivos e seus destinos estão conectados... até que precisam se separar. A faca sutil é a viciante sequência de A bússola de ouro, um clássico da fantasia considerado pela Entertainment Weekly "o melhor livro de todos os tempos". A fantástica aventura de Lyra continua, levando o leitor a novos mundos, rumo a uma descoberta devastadora.

Para ler a resenha do primeiro livro, clica na imagem abaixo:

                                                         

Resenha:

O mundo de Lyra mudou. Literalmente. Depois de decidir que continuaria sua busca pelo Pó e toda a mitologia que o envolve, Lyra dá um grande passo pela abertura que seu pai, Lorde Asriel, rasgou durante a Aurora Boreal e desapareceu. Agora, a garota não tem mais a companhia dos garotos gípcios, nem mesmo dos seres fantásticos que eram seus amigos no mundo antigo: ursos que falam, bruxas e  pessoas com seus daemons.

Porém, Lyra tem Pantalaimon, seu daemon, que ainda não estacionou em uma forma, apesar de gostar muito ser uma marta, e a segue para esse mundo novo.

Will é um garoto como qualquer outro. Se não fosse um assassino. Desde o primeiro parágrafo, percebemos que há pessoas atrás de Will e que ele foge de algo, ou alguém. Nada é muito certo até que o livro passe da metade. O que temos certeza é que Will não é uma criança comum: ele cuida da mãe, possui uma maturidade incomum para alguém da sua idade, e é inteligente nos momentos mais oportunos e que requer pensamento rápido. Will gosta de gatos e guarda cartas do pai, um homem que ele nunca conheceu e que possui um mistério por trás da sua ausência.

Em suas andanças, Will percebe algo peculiar: uma janela. Não uma janela qualquer, mas uma janela no meio de um parque, e do outro lado um outro mundo, muito diferente do dele. Esse possui mar e um sol muito forte, e um sossego que Will procura desde que deixou sua mãe aos cuidados da vizinha e tentou fugir de quem o perseguia.

O ar daquele lugar tinha algo de mediterrâneo, ou talvez de caribenho. Will nunca estivera fora da Inglaterra, de modo que não podia compará-lo com qualquer coisa que conhecesse, mas era o tipo de lugar para onde as pessoas iam tarde da noite para comer e beber, dançar e ouvir música. No entanto, ali não havia vivalma, e o silêncio era imenso.

É nesse mundo que a história de Lyra e Will convertem. Após ser atacada por uma Lyra assustada e histérica, os dois percebem que o mundo onde estão é diferente: só possui crianças. Para Lyra, aquele mundo não passa de um mundo abandonado e estranho, onde as pessoas não possuem seus daemons, logo, podem nem mesmo estarem vivas. Para Will, algo está terrivelmente errado.

— Eu e Pantalaimon. Nós. O daemon de uma pessoa não é uma coisa separada dela. É ela. Uma parte dela. Um faz parte do outro. No seu mundo não existe ninguém como nós? São todos como você, com os daemons escondidos? 

É aqui que percebemos que o daemon não é apenas um animal ligado aos humanos por um fio invisível. Se Lyra diz que Will tem um daemon, mas está dentro dele, conseguimos ter uma noção do ele realmente represente, certo? Vou deixar vocês pensarem um pouquinho.

Durante a narrativa, uma conversa entre os dois surge: Lyra percebe que o mundo de Will é igual ao dela e, tendo conhecimento de onde a janela que Will pulou está, pede para que o acompanhe, pois precisa achar um Catedrático na faculdade de Oxford.

Os dois se aventuram a voltar. É quando Lyra percebe que o mundo de Will, apesar de ter elementos semelhantes ao dela, é muito diferente, e fica assustada e confusa.

Nesse mundo, a Oxford de Lyra é diferente: não possui Catedráticos e o aletômetro é apenas um objeto estranho aos olhos de todos. O mundo de Will possui carros velozes, buzinas e policiais que acham muito suspeito duas crianças andando sozinhas quando deveriam estar na escola: uma com uma bússola dourada na mão, outro com olho roxo. Não há gípcios, e bruxas e urso polares falantes são criações da literatura e folclore.

Nesse mundo, as mentiras de Lyra e sua sagacidade não são de grande valia, e podem ter consequências sérias. Will é seu amigo e seu norte naquele mundo. No outro, ele é apenas um garoto corajoso e inteligente, e Lyra é a amiga que conhece seres fantásticos e sobrenaturais.

Os dois têm objetivos bem diferentes, mas que convergem em apenas uma missão: permanecerem juntos e se ajudarem. Will está a procura do pai, Lyra quer saber sobre o Pó.

Do outro lado, as pessoas que ajudaram Lyra em sua primeira aventura se mexem: as bruxas conhecem a criança, e Serafina Pekkala convoca várias para viajarem em seu socorro. O que Lyra tem de tão especial para fazer com que os seres mágicos queiram ficar ao lado dela?

Além disso há a questão da menina Lyra Belacqua, chamada Lyra da Língua Mágica pelo Rei Iorek Byrnison. Ela escolheu o galho de pinheiro-nubígeno correto, na casa do Dr. Lanselius: é a criança que sempre esperamos, e agora ela desapareceu.

Lyra também tem a confiança e a ajuda fiel de um amigo que fez na sua primeira viagem: Sr. Scoresby. O balonista sabe que a garota tem um propósito e a ama como filha, logo se coloca à disposição para ajudá-la. Sr. Scoresby tem um missão bem perigosa: encontrar Stanislaus Grumman, um homem que sumiu no Norte e que Lorde Asriel fingiu estar morto para conseguir dinheiro para cortar a Aurora Boreal.

Parece que Grumman conhecia o paradeiro de um objeto que dá proteção a quem quer que o carregue. Não quero fazer pouco da magia que vocês, bruxas, dominam, mas essa coisa, fosse o que fosse, tinha um tipo de poder que ultrapassa qualquer coisa de que eu já tenha ouvido falar.

Mas Lyra tem muitos inimigos, e isso inclui sua própria mãe, a mulher do daemon-macaco de Bolvangar, Sra. Coulter, que tem um coração de pedra, uma determinação de aço e objetivos bem pessoais. Ela procura Lyra por cada canto, mas ainda não conseguimos saber o motivo exato. Seria por causa do aletômetro?

— Pensa que estou do lado dela? Ou acha talvez que estou do lado do pai dela? Talvez pense que eu deveria ser torturada como a bruxa. Bem, estamos todos sob o seu comando, Eminência. Basta estalar os dedos e pode mandar me matar. Mas mesmo procurando em cada pedacinho da minha carne não iria encontrar uma resposta, porque nada sei dessa profecia, nada mesmo. E exijo que me conte o que o senhor sabe. A minha filha, a minha própria filha, concebida em pecado e nascida em desonra, mas ainda assim minha filha, e o senhor esconde de mim aquilo que tenho todo o direito de saber.

Muitas outras variáveis entram no jogo. Em um mundo onde as portas estão abertas a outros mundos e qualquer um pode navegar entre eles, personagens fantásticos entram em uma cidade comum, bruxas cortam o céu, algumas em direção ao norte, outras em desertos, pessoas que procuram o Pó estão fazendo pesquisas em uma Oxford contemporânea financiada por químicos, Espectros sugam as almas das pessoas, mas não se aproximam das crianças, anjos estão migrando para um local específico e possuem seu próprio objetivo...

Mas algumas perguntas sempre são feitas durante a narrativa: onde está a garota? Com quem ela está? Como a garota consegue ler o aletômetro com seu instinto se estudiosos debruçaram-se sobre o objeto por décadas e nunca conseguiram fazer o mesmo?

A Faca Sutil mostra uma história com pontos de vistas muito diferentes do de Lyra, o qual estamos acostumados por causa de A Bússola de Ouro, e isso deixa o livro mais rico, porém, se você piscar, pode achar tudo muito confuso. Alguns pontos não me chamaram a atenção, eu sinto que não me conectei tanto com os personagens, por mais que os adore, e momentos chaves, que eu esperava ter reações mais fortes, passaram batidos na minha leitura.

Há quem diga que não conseguiu entender realmente o que está se passando durante a história, eu não fui uma delas, mas espero que o autor consiga desenvolver e finalizá-la bem porque, com os novos personagens, arcos foram abertos, e eles precisam ser fechados. 

A trilogia entrou em conflito direto com a religião católica, por usá-la em pano de fundo para o desenvolvimento de toda a trama. Alguns boicotam os livros de Philip Pullman, mas isso nunca fez com que as pessoas parassem de lê-los e se deliciarem com os personagens interligados em uma grande trama fantástica.

Bem, Lorde Asriel nunca se sentiu à vontade, por assim dizer, com as doutrinas da Igreja. Já vi um ar de desagrado no rosto dele quando falam de sacramentos, penitência, redenção e coisas assim. Entre o nosso povo, desafiar a Igreja significa a morte, mas no peito de Lorde Asriel vem crescendo uma revolta desde que comecei a trabalhar para ele, é isso que eu sei.

De qualquer forma, A Faca Sutil é uma leitura obrigatória para os fãs da literatura fantástica, e quando você menos percebe já está viajando com Lyra e Will em mundos diferentes, sejam a pé na companhia de ursos polares, seja em cima de um balão ao lado de bruxas em seus galhos encantados.