O Som do Nosso Coração - Emma Cooper

Título: O Som do Nosso Coração 

Autor: Emma Cooper  

Páginas: 406
Ano: 2020
Editora: Record
Gênero: Romance, Chick-lit
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon
Nota:  

Sinopse: Se Melody não tivesse se esquecido de comprar o produto para derreter gelo, nunca teria escorregado e batido a cabeça. Também não teria acabado com um distúrbio que a faz cantar sempre que está nervosa e que a coloca nas situações mais constrangedoras do mundo. Se Dev não tivesse levado as crianças ao zoológico naquele dia, então o acidente nunca teria acontecido, seu filho não teria acabado com uma cicatriz no meio do rosto e a filha, com profundas sequelas. Mas, se onze anos depois eles não tivessem visto a informação de que uma pessoa com a mesma descrição do pai foi encontrada, talvez nunca tivessem ido para a Cornualha. E, no lugar mais improvável, descoberto o real significado de "família".

Resenha:

Eu não estava preparado para esse tombo!

Sabe aquele livro que a gente pega porque procura algo leve e cômico para passar o tempo? Pois bem, fiquem atentos meus amigos, porque às vezes um autor pode nos enganar completamente, e foi exatamente isso o que aconteceu com essa obra.

Melody King pode ser descrita como uma mulher peculiar. Após escorregar e bater a cabeça no gelo, a nossa protagonista adquire uma condição clínica que nem os médicos conseguem explicar: ela canta e faz performances (sim, é verdade) quando passa por situações que a deixam estressada. Ademais, deixada pelo seu marido (Dev) que sumiu sem explicações, ela tem que lidar com seus dois filhos adolescentes, Rose e Flynn, ao mesmo tempo que resolve seguir uma pista que pode levá-la a reencontrar o pai das crianças.

Respondendo as perguntas inicias que com certeza surgiram: sim, a obra é muito engraçada e rende cenas hilárias da protagonista cantando em público, de Queen a Taylor Swift e diversos outros sucessos que provavelmente devem compor a playlist de favoritos da autora no Spotify. 

A primeira parte do livro é bastante focada em apresentar ao leitor a condição de Melody e a sua relação com os filhos, os quais precisam sobreviver ao ensino médio suportando a vergonha alheia de ter uma mãe que não pode comparecer à reunião de pais ou ir ao supermercado sem performar um sucesso marcante das paradas musicais. Como a trama é intercalada entre os personagens, temos a oportunidade de conhecer de forma aprofundada cada um deles. 

"Eu os estou afastando da escola e sujeitando-os a uma jornada longa e tediosa (espero) para encontrar um pai que não encontraremos. Estou certa em alimentar a esperança deles? Está claro que Rose precisa disso, mas e quanto a Flynn? Ele raramente fala sobre Dev, apesar de todos os terapeutas que consultou."

Mas ao contrario do que se poderia esperar, Flynn e Rose são muito compreensivos e o leitor rapidamente se conecta com ambos, principalmente porque ao longo da leitura revelações vão surgindo e passamos a perceber que o sofrimento pode ser internalizado e muitas vezes nem nos damos conta de que alguém precisa de ajuda. Nesse aspecto a autora conseguiu abordar temas complexos com o cuidado necessário, elevando a qualidade da leitura.

"Não tinha mais importância que eu não possa comprar nem um par de sapatos com a minha mãe sem parecer um circo de horrores e não tinha mais tanta importância o fato de papai ter nos deixado. Ele não morreu, não desapareceu, ele simplesmente nos deixou."

 

E à medida que mãe e filhos se unem para desvendar o mistério envolvendo o abandono repentino de Dev, o livro ganha um novo tom. Confesso que não foi muito fácil de engolir o motivo desse personagem para sumir assim do nada, mas à medida que a leitura evolui descobrimos que o destino gosta de pregar peças de vez em quando. 

Dev vai ganhando cada vez mais destaque e acompanhar toda a família tentando juntar os cacos em meio a tanto ressentimento é angustiante e rende momentos bastante dramáticos, nos quais os frequentes devaneios da protagonista reduzem um pouco o ritmo de leitura. 

"Fecho os olhos e, por esses quinze minutos, me vejo em seus braços, segurando sua mão na praia, observando-o cozinhar. Acho que eu sempre soube que nosso relacionamento era especial."

Ressalvas à parte, a reviravolta que presenciei aqui foi muito marcante e quando paramos para refletir fica claro que a autora foi nos dando pistas desde o começo, porém soube nos manipular incrivelmente bem. Fazia tempo que eu não chorava tanto com um livro, porém é inevitável quando nos deparamos com tantos personagens complexos e tão ricamente trabalhados que os sentimentos transbordam das páginas. 

Por fim, só posso dizer que o final é extremamente emocionante (preparem os lencinhos, sério). O livro deixa uma linda reflexão sobre o significado do amor, aquele amor que resiste a qualquer adversidade e se torna ainda mais forte. 

"[...] folheio minhas lembranças como um álbum de fotografias: Rose gritando enquanto eu tentava colocar nela um vestido de princesa - o rosto vermelho de raiva, sujo de glitter - e Flynn...punhos machucados e olhos que contém arrependimento e confusão, como a capa de um mágico: os mesmos olhos que haviam formado trilhas de lágrimas no rosto pegajoso de geleia enquanto eu o beijava, afugentando a dor da queda nos primeiros passos [...]".

Cooper nos entrega uma obra criativa e que consegue ser engraçada e emocionante de forma equilibrada. Apesar de ter acabado a leitura desidratado, recomendo o livro para quem quer se surpreender e está preparado para uma história marcante. 

Até a próxima resenha e mantenham-se hidratados!