O Portão do Obelisco - Trilogia Terra Partida, Livro 02 - N. K. Jemisin

8 de fevereiro de 2020


 Título:  O Portão do Obelisco - Trilogia Terra Partida, Livro 02
Autor: N. K. Jemisin
Páginas: 512
Ano: 2018
Editora: Morro Branco
Gênero: Fantasia, Ficção, Ficção científica, Literatura Estrangeira
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon
Nota:   
Sinopse: O fim se torna mais escuro enquanto a civilização desvanece na noite longa e fria.
Alabaster Tenring – louco, destruidor, salvador – voltou com uma missão: treinar sua sucessora, Essun, e com isso selar o destino da Quietude para sempre. A história continua com uma filha perdida – encontrada pelo inimigo – cujas escolhas poderão partir o mundo. Continua com os obeliscos e mistérios antigos que finalmente convergem em respostas. A Quietude é a muralha que se impõe contra os fluxos da tradição, a centelha de esperança há muito enterrada sobre a crescente camada de cinzas.
E ela não será quebrada.


Resenha:

O Portão de Obelisco é o segundo livro da fantástica trilogia A Terra Partida, da autora norte-americana N.K. Jemisin, publicado pela editora Morro Branco.

Ah... por se tratar de uma resenha de série, pode conter spoilers do primeiro livro, A Quinta Estação, que caso desejem conhecer um pouco mais, temos resenha dele, basta clicar na imagem abaixo.



“O pensamento era simples e previsível: é melhor morrer do que viver como escravo.”

O Portão do Obelisco é um maravilhoso livro de fantasia e ficção científica é o ganhador do prêmio Hugo Awards, premiando a autora N.K Jemisin, pelo segundo ano consecutivo, sendo que o premio anterior foi para A Quinta Estação, o primeiro livro da trilogia. 

Como alguns podem se lembrar eu fiquei empolgada e fascinada pelo primeiro livro. A Quinta Estação, tirou o meu fôlego. E por isso, eu estava com altas expectativas para a continuação dessa história. O Portão do Obelisco, não me decepcionou em nada. É difícil encontrar autores que conseguem escrever um segundo livro de trilogia, tão bom quanto o primeiro. Jemisin conseguiu. Este segundo volume além, de nos aprofundar na trama, nos dando explicações que eu, pelo menos desejava ardorosamente, ela aprofunda ainda mais no desenvolvimento das personalidades de seus personagens, suas motivações. Sem contar que as críticas a temas importantes são ainda mais debatidos através de Essun, sua protagonista que nos obriga a ver o que existe de pior enquanto aponta para uma esperança tênue que ela busca proteger com afinco de que podemos sermos melhores. Um livro essencial e que expande a mitologia que apenas conhecemos no primeiro livro.



Vamos relembrar um pouco do que se trata a trama?

Em A Quinta Estação, acompanhamos a destruição de um mundo, a terra partida, esta em cima de placas tectônicas que constantemente existem abalos sísmicos que podem destruir tudo. Essas catástrofes quando acontecem iniciam uma Estação, que podem durar: meses, anos, centenas de anos. Cada estação é diferente da outra, houve estação onde chuvas ácidas, estações de loucura, tudo como resposta aos terremotos que destroem o ecossistema existente na ocasião.

Ninguém sabe ao certo o que levou a primeira quinta estação, conhecida como a estação do estilhaçamento, porém, desde esse momento foi leis para a sobrevivência.

E uma das leis é a escravização de uma parcela da população. Os orogenes. Pessoas dotadas da capacidade de controlar os movimentos da terra, alguns os consideram monstros, e os caçam, outros acreditam que eles devem apenas existir para viverem como escravos, treinados pelo fulcro – um local comandado por pessoas que possuem o poder de neutralizar os orogenes , chamados de guardiões – para controlarem os tremores e manterem os humanos normais em segurança. Os orogenes não possuem direitos. São considerados uma classe inferior e não são tratados como humanos. E isso está estão arraigado nessa cultura que muitos deles concordam com uma vida dessas.

“Decidimos, portanto, que embora eles se assemelhem a nós de linhagem boa e saudável e, embora devem ser conduzidos com gentileza para o benefício tanto de acorrentados como de pessoas livres, deve-se partir do pressuposto de que qualquer grau de habilidade orogênica nega seu correspondente estado de ser humano. Eles devem ser legitimamente tidos e havidos como uma espécie inferior e dependente.”

Então no primeiro livro, vários acontecimentos convergem para a destruição do mundo. Alabaster, um poderoso orogene, após perder tudo o que importava em sua vida, em um movimento de vingança e esperança de mudar para sempre o mundo como ele existe. Destrói o fulcro e cria uma fenda que trás uma quinta estação, uma tão poderosa que durará milênios.

“É surpreendente como a sensação é revigorante. Ser julgada pelo o que você faz, não pelo o que você é.”

E é pelas vidas de Essun que vamos saber o que motivou Alabaster, que as amou, e foi amado por elas fez o que fez, e quando ele pede a Essun que ela o ajude a terminar o que começou, é quando começa o segundo livro.

Essun, que já teve outros nomes em outras épocas de sua vida, está lutando para encontrar sua filha Nassun, e superar as perdas que teve: filhos, e amores.

Enquanto observa Alabaster morrer aos poucos, ela compreende os motivos dele e entende que ela é a única que poderá salvar o mundo, colocando um fim a esta estação. Mas não será tão fácil. Conforme ela conhece mais dos segredos e história desse mundo, ela compreende que existe uma guerra, uma que existe desde antes do estilhaçamento. E que causou tudo isso desde o principio.

Nessa guerra existem mais de um inimigo, alguns desejam o extermínio da raça humana, outros um equilíbrio para o mundo e por ai vai.



Dessa vez temos a historia por dois pontos de vista, Essun e sua filha Nassun, ambas sendo tragadas para a guerra, de certas formas manipuladas eu poderia dizer.

Nassun, uma criança que está sendo moldada por tudo que ocorre ao seu redor nos traz uma narrativa tão impactante, como o foi da vida de sua mãe no primeiro livro.

“Se ela o machucar porque o ama, ainda é machucar? Se ela o machucar muito agora de modo que ele vá sentir menos dor depois, será que isso a torna uma pessoa horrível?
... Não é assim que o amor deveria funcionar?”

O paralelo com o racismo que a população negra sofre esta implícito, apesar de não ser o tom de pele que importa aqui, e sim aqueles que tem ou não poderes, os orogenes, são chamados de forma pejorativa de roggas, um termo tirado do nigger, que é um termo ofensivo para designar pessoas negras. E os protagonistas da história são negros. É o efeito do racismo que os orogenes sofrem que vamos acompanhar, ver como ele pode moldar as pessoas para se tornarem cruéis, sem esperança, tão carentes de amor que aceitam migalhas, e relacionamentos abusivos disfarçados de amor.

“Mamãe não está aqui, e a morte sim, e seu pai é a única pessoa no mundo que a ama, apesar de o seu amor vir envolto em dor.”

Personagens importantes e que eu achava que nunca mais veria, voltam – um, aliás, que eu adoraria que tivesse morrido – e com eles, reviravoltas que eu não esperava. Novos personagens se unem a trama, dando uma sensação de urgência. O perigo só aumenta para os nossos protagonistas, que desejam sobreviver, e manter alguma honra e dignidade, em uma estação que ameaça destruir tudo isso.

Eu poderia falar ainda mais da trama, que é muito complexa, mas deixo em aberto para que vocês se surpreendam com as reviravoltas da trama. Se apaixonem pelos personagens, os amem, ou os odeiem.



A escrita de Jemisin é densa e fascinante. Você mergulha no livro e vive o que ela escreve. Com uma criação de personagens ricos e complexos, é impossível não se conectar com eles. Suas personalidades tão intensas, seus erros, acertos, seus amores e seus ódios. Tudo no livro é muito forte.
Ela trata de temas muito reais, mesmo em meio a um livro de fantasia, ali estão às críticas sociais, ao preconceito, ao ódio, ao temor do que é diferente. 

“É como se todos quisessem que eu fosse ruim, então não tem mais nada que possa ser... Gostaria que o senhor pudesse me amar de qualquer maneira, mesmo eu sendo ruim.”

É um livro de fantasia, com toques de ficção cientifica, ou seria o contrario? Os elementos de ambos estão muito equilibrados na escrita. A orogenia é um poder que me cativou, suas múltiplas camadas, e como ele pode ser utilizado são bem interessantes. É claro, que isso deve muito ao talento da autora em descrever uma história onde o aspecto humano e tão importante quando o uso de magia. Aqui temos personagens que são capazes de atos terríveis, que usam a desculpa de que tudo está sendo feito pelo bem maior e pela sobrevivência, enquanto matam e dizimam. E mesmo assim, vemos o terror que o forjou para chegar aquele ponto. Afinal, quem é o responsável por criar os monstros?

Um livro indicado para os fãs de uma literatura mais densa. Fantasia, ficção cientifica e distopias. Que gostam de tramas onde o fator humano é muito bem trabalhado e com personagens capazes fazer você os amar e sofrer por eles e com eles.

 Mal posso esperar para a conclusão épica dessa história. Pois, tem tanto, tanto a ser explicado que sinto que muito dos mistérios dessa história ainda vão me surpreender. 

Até a próxima

6 comentários

  1. Não dá para esquecer fácil o quanto o primeiro livro mexeu com você e com quem leu a resenha também.
    Agora lendo essa resenha do segundo livro, a gente percebe que o nível conseguiu ficar mais elevado ainda, com mais ação e claro, mais descobertas.
    Isso de jogar a pontinha de racismo também é uma jogada de mestre e pelo que entendi, foi muito bem usada.
    Preciso só comentar sobre o capricho nas fotos!!Isso deixa a gente tão feliz, por não ser feito de qualquer maneira e sim, com carinho e respeito a quem vem ao blog todos os dias!
    Obrigada por isso!
    Já quero a trilogia!!!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ângela, eu tô extasiada com essa trilogia. Ansiosa para ler o próximo! É já posso dizer o tipo de leitura que você sabe quando reler (e eu sei que não vou demorar a reler ele) você vai encontrar ainda mais coisas escritas nas entrelinhas, de tão incrível que é a escrita da Jemisin!
      E obrigada ❤ eu adorei tirar as fotos fiquei pensando em elementos que combinariam com o livro e história ❤ foi feito com muito carinho para vocês mesmo ❤
      Beijos 😘

      Excluir
  2. Olá! Mesmo batendo na tecla de que dessa água (ainda) não beberei, fiquei bem curiosa com a história, ainda mais depois de ler sobre algumas personagens que acabam voltando (e não deveriam). Devo confessar que fui sim convencida a dar uma chance aos livros (aleluia).

    ResponderExcluir
  3. Vivian!
    Fico bem feliz quando uma continuação traz as explicações necessárias e desejadas por nós leitores, principalmente porque esclarece muita coisa.
    Gosto muito quando podemos ver dois pontos de vista da história, porque geralmente são bem diferenciados.
    cheirinhos
    Rudy

    ResponderExcluir
  4. Olá!
    Eu vejo muitos leitores lendo esse livro, principalmente o primeiro. Tenho uma curiosidade sobre ele e sobre o mundo. Gostei bastante do enrendo e uma premissa ótima, ainda mais onde envolve ficção que sou bastante apaixonada. Espero conseguir ler!

    Meu blog:
    Tempos Literários

    ResponderExcluir
  5. Oi, Vivian
    Que fantasia complexa!
    Mas muito original.
    Achei interessante esses temas abordados, ainda mais falar sobre racismo.
    Parece ser impactante. Eu ainda não conhecia, mas quero pra já!
    Bjs

    ResponderExcluir