Quando Apaga a Luz - Gustavo Ávila

Título: Quando Apaga a Luz
Autor: Gustavo Ávila
Páginas: 476
Ano: 2019
Editora: Verus
Gênero: Ficção,Literatura Brasileira,Suspense e Mistério
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon 
Nota:  

Sinopse: Novo livro do autor de O sorriso da hiena. Quando supostos desaparecimentos de moradores de rua chegam ao conhecimento de Artur Veiga, o detetive inicia uma investigação própria para comprovar os fatos, já que não há indícios concretos sobre os crimes. Sem desconfiar que havia um plano maior por trás da série de desaparecimentos, Artur se vê diante de um caso mais complexo do que imaginava, que o desafia em uma trabalhosa busca, levando-o para dentro de uma realidade que sobrevive às margens da vida cotidiana. Enquanto o detetive busca encontrar a verdade, um criminoso tem como objetivo expô-la, movido pelas engrenagens da própria sociedade que o criou. Dentro dela, as normas sociais limitam a felicidade, demonizam os desejos individuais e buscam oprimir o sentimento livre, utilizando o discurso da decadência de valores para solidificar os moldes de uma sociedade reprimida e adestrada.

Resenha:

“Havia neles um brilho opaco, como um espelho borrado pelo vapor. Só assim, examinando bem, quem realmente se desse ao cuidado de ver aquela pessoa saberia dizer quem era. Talvez por o mal não possa ser disfarçado completamente. Ele sempre está lá, gritando no fundo do poço, tentando escalar as paredes do vazio. Arranhando. Arranhando. E arranhando.”

Quando a Luz Apaga é um romance policial do autor brasileiro Gustavo Ávila, publicado pela editora Verus, que foi escolhido como leitura do mês de outubro do meu clube do livro sombrio favorito o 3’O Clock Reading Club. Vou agradecer aqui esse um ano lendo junto com esse grupo que tem me proporcionado leituras intensas, e algumas que inclusive talvez eu não teria lido.

Como o caso deste livro, que foi escolhido pelas adms do grupo e eu não tinha o conhecimento, e agora me pergunto como nunca tinha ouvido falar desse autor?

Gustavo mostrou ter uma escrita bem interessante, e chamou minha atenção.

“Só a dor deixa as pessoas sinceras. Nem o amor tem tal poder. Porque a alegria disfarça as coisas da vida. A dor escancara a verdade.”

Voltando ao foco da resenha. No livro acompanhamos três narrativas principais. Arthur é um detetive que vive dentro de algum espectro do autismo, metódico e com a necessidade de manter uma rotina fixa, para que possa ter um controle de sua ansiedade. Ele se vê no inicio de suas férias, procurando algo que ele possa fazer para passar o tempo, até poder voltar ao trabalho. Com isso acaba esbarrando em uma denúncia de um morador de rua, que diz que seu amigo sumiu. As forças policiais da cidade estão afundadas em casos e não há um detetive disponível que acredite na denúncia, então Arthur toma para si essa investigação paralela, que acaba por ser mostrar ser um caso serial, com o sumiço de vários moradores de rua. A segunda narrativa, é uma das que mais me prendeu a atenção. Matias Dália, é um dramaturgo famoso, que possui um relacionamento complexo com sua família, com um modo de enxergar a arte e criar peças que me deixaram muito curiosa, ele tem uma característica pessoal – não falarei qual – que não somente eu desconhecia totalmente, tanto que fui pesquisar para entender melhor, como me incomodou bastante, pois eu sempre acreditei que devemos ser pessoas empáticas, e Matias mostrou uma face de algo que me deixou contemplativa, por isso é a narrativa que eu mais gostei, quando lerem acho que vão entender o motivo. A terceira narrativa, obviamente é a do seqüestrador dos moradores de rua, que por certo tempo não temos a mínima pista de quem seja, e por isso todos os personagens citados poderia ser ele, com exceção é claro de Arthur.

“Era como se o silêncio ecoasse pela casa. E quando o silêncio pode ser ouvido a dor parece ser tão profunda. ”

Quando a Luz Apaga, me deixou incomodada durante a leitura, no início a trama, se mostrou um pouco lenta, com um começo que te faz ficar muito curiosa, para depois ir diminuindo o ritmo, mostrando uma rotina dos policiais, e outros personagens que depois não estavam mais ligados a trama, muitas coisas estavam desconexas, é claro que conforme a trama foi se desenvolvendo pude perceber que uma boa parte estava sim interligado, já que podemos ver um movimento em cascata, onde os eventos vão se ligando uns aos outros. O final é para te fazer ler e parar por um momento, refletir antes de seguir em frente com o seu dia a dia.

É uma escrita bem detalhada, o que para alguns pode se mostrar um pouco maçante a princípio. Porém, no geral, é um livro interessante. Cujo ponto que quero parabenizar o autor é ter personagens com limitações psicológicas e os colocar em destaque, com uma vida de certa forma estável e de sucesso, eu não me recordo de ter lido outro livro nacional, com personagens dentro de algum espectro de autismo ou características mentais tão severas e difíceis de lidar. Gostei muito disso.

“Embora o sentimento não deixe de ser verdade só porque não foi dito. Porque a verdade, mesmo quando não é conhecida, existe”

Eu acabei não desenvolvendo um elo com os principais protagonistas, Arthur e do vilão, não gostei da motivação deste ultimo – apesar de que nenhuma motivação para crimes ser boa na realidade, então essa só me pareceu mais desgraçada do que o normal -, não simpatizei com os dois. No entanto como disse acima, foi o contrário, com os demais personagens, principalmente com Matias.

É um livro que apesar de ser um suspense policial, é também uma trama dramática, onde os aspectos emocionais dos personagens é muito importante para a trama. Temos diversos personagens, lidando com traumas, e lutando para compreender suas emoções.

“As pessoas sabem que eu estou aqui, mas não me enxergam. Sou um fantasma em meio a pessoas que rezam para que eu suma.”

E toca em temas delicados como: a invisibilidade das pessoas em situações de moradia em rua, e como a sociedade fecha os olhos para eles; a inclusão em sociedade das pessoas com autismos ou outra limitações de origem psicológica, a aceitação de desfigurações físicas. Muitos temas importantes.

“Parece que no fundo todos querem ajudar o mundo, mas por algum motivo ninguém faz nada.”

E voltando ao mote principal, o autor me surpreendeu demais, em momento, eu não imaginava quem era o culpado, quando foi revelado, realmente fiquei pasma, quis até rever minhas anotações onde eu tinha minhas teorias sobre quem estava fazendo e os motivos, passei muito longe... Muito longe mesmo. Eu apesar de amar descobrir quem mata quem nos livros, também gosto de me surpreender.

“— A verdade deve existir para construir, não para destruir.”

Uma indicação de leitura policial nacional, para quem gosta de livros detalhados, investigações policiais com algumas descoberta mirabolantes.

Pretendo ler outros livros do autor, para conhecer melhor sua escrita.

Espero que leiam, e até a próxima.