A Quinta Estação - Trilogia A Terra Partida, 1 - J.K. Jemisin

Título: A Quinta Estação
Autor: J.K Jemisin
Páginas: 560
Ano: 2017
Editora: Morro Branco
Gênero: Fantasia, Ficção, Ficção científica, Literatura Estrangeira
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon | Saraiva
Nota:   

Sinopse: Vencedor do Hugo Awards. É assim que o mundo termina. Pela última vez. Três coisas terríveis acontecem em um único dia: Essun volta para casa e descobre que seu marido assassinou brutalmente o próprio filho e sequestrou sua filha. Sanze, o poderoso império cujas inovações têm sido o fundamento da civilização por mais de mil anos, colapsa frente à destruição de sua maior cidade pelas mãos de um homem louco e vingativo. E, no coração do único continente, uma grande fenda vermelha foi aberta e expele cinzas capazes de escurecer o céu e apagar o sol por anos. Ou séculos. Mas esta é a Quietude, lugar há muito acostumado à catástrofe, onde os orogenes - aqueles que empunham o poder da terra como uma arma - são mais temidos do que a longa e fria noite. E onde não há compaixão. 

Resenha:

“Somos Deuses acorrentados e, pelas ferrugens. Isso. Não. Está. Certo”

Este maravilhoso livro de fantasia e ficção científica é o ganhador do prêmio Hugo Awards,  premiação entregue às melhores obras de ficção cientifica e fantasia do ano.  E ele não simplesmente deu a autora o primeiro prêmio na categoria principal, para uma escritora negra, a N.K Jemisin, o que por si só já seria muito importante, o prêmio é extremamente merecido. Poucos livros de fantasia atuais surpreenderam-me tanto quanto ele. É publicado no Brasil pela Editora Morro Branco, que já está ganhando um lugar de destaque em meu coração de leitora.

Por isso vou começar esta resenha falando da qualidade da escrita da autora e da belíssima complexidade de sua fantasia.

O grande desafio de escritores de fantasia é, criar algo novo, criar algo que encha os leitores de um assombro e que inspire uma empatia para a sua historia, personagens e seu mundo.

Existem tantos escritores seculares que já escreveram tanto nesse gênero e moldaram a nossa percepção do que seria uma fantasia, que ao escolher escrever algo dentro do gênero, os escritores, estão fadados a terem esse desafio: Criar algo novo, fantástico e se possível superar tudo o que veio antes... Não é um legado fácil.

“Isso não está certo.- damaya?Não está certo, o que estão fazendo com ela. O que esse lugar faz com todos dentro de suas paredes. O que ele a está obrigando a fazer para sobreviver.
- vai fazer isso? Por mim?Ela ainda o ama. Isso também não está certo.”

E Jemisin, ainda foi audaciosa, ela trouxe características da ficção científica para o seu mundo e sua história, a fantasia está intricadamente mesclada com suposições metafísicas em uma esperança de que as complexas explicações da ciência possam elucidar o que é impossível para uma mente racional compreender sem algo que o valide.

E o talento da escritora fica visível nesse ponto, porque ela não somente fez essa delicada mistura como tornou a leitura fluida, sem ser tornar tediosa, mesmo nos momentos de explicações técnicas.

Isso porque ela criou um mundo totalmente novo, ela descreve algo que ao mesmo tempo é muito próximo da nossa terra, porém, infinitamente mais estranho, mais misterioso e mortal.

Outro ponto que já falarei aqui é da técnica de narrativa da autora, em A Quinta Estação, acompanhamos Essun, Syen, Damaya em momentos cruciais de suas vidas, seus amores, as desgraças que as atingem e as forças que elas forjam para seguir em frente. Elas como criança, jovem adulta e mulher madura, são os pontos de vista da história e é pela lente de suas experiências e como elas compreendem o mundo que vemos o fim de um mundo acontecer.

Por ser uma narrativa tão intricada, eu me vi imersa totalmente nela, um burburinho em minha mente estava crescendo enquanto eu lia, de uma para a outra, a narrativa, me deixava bem tensa, tantas pistas acontecendo e como eu disse a teia da minha percepção foi se ampliando a cada capitulo. Nada foi escrito ao acaso, quando cheguei mais ou menos da metade do livro uma verdade veio a mim da trama, mas somente baseada no que eu estava absorvendo da leitura, então tudo foi lido com uma nova luz, e ao final do livro quando o quebra-cabeça da narrativa foi se encaixando a beleza de ler algo que desafia o leitor a ler mais do que está sendo escrito e compreender realmente a história e suas possíveis narrativas subliminares foi intensa.

É realmente um livro que me trouxe uma alegria ao ler algo assim, como outras mesclas de emoções, agora pela história em si.

“- Nunca duvide que a amo, pequenina. Pobre criatura trancada em celeiro, sentindo tanto medo de si mesma que mal ousa falar. E, entretanto, existe o fogo da astúcia dentro de você, junto com o fogo da terra, e eu não posso deixar de admirar ambos, por mais nocivo que este último seja. – ele balança a cabeça e suspira – odeio fazer isso com você. Odeio que seja necessário. Mas, por favor, entenda, eu machuquei você para que você não machuque mais ninguém.”

E vou falar dela agora de uma vez.

A trilogia A Terra Partida, tem o seu primeiro volume com A Quinta Estação. Nesse livro acompanhamos três personagens principais que já citei, e pelo menos outros quatro personagens que interagem diretamente com elas e, cujas ações impactam diretamente a trama, Alabaster, Hoa, Innon, entre outros... Porém, só lemos e sabemos o que Damaya, Syen e Essun sabem, o que elas compreendem.

“Inverno. Primavera. Verão. Outono; A MORTE é a quinta e ocupa o trono”

Em uma terra acostumada com catástrofes naturais, já que ele reside em cimas de placas tectônicas, extremamente ativas, as pessoas estão acostumadas a viverem eternamente com o medo de seu mundo entrar em colapso em perderem tudo, as cidades e comunidades variam de tamanho, a grande cidade e capital do Império Sanze, Yumenes é a mais vasta e rica entre elas, sobreviveu a vários colapsos, tremores e terremotos, cada vez que existe algo grandioso, que desencadeia terríveis conseqüências para o mundo, um tempo chamado quinta estação ocorre que é um tempo onde todos precisam sobreviver, seja a chuvas acidas, pestes, loucuras entre outros, as estações variam de tempos, umas foram de anos, outras de décadas, e poucas comunidades sobrevivem a elas, exceto obviamente Yumenes, que existe há séculos.

É nesse ponto que entra a fantasia, até agora estamos lidando com um mal extremamente real para muitas pessoas, no Brasil, não temos terremotos, porém, outros lugares do mundo sofrem com isso, certo? Mas vamos a fantasia dessa historia.

Não somente humanos existem, nesse mundo algumas pessoas, nascem com um poder chamado Orogenia, que é a capacidade natural de conter tremores, de moldar energias naturais, para controlar a terra. Porém, em algum momento dos séculos passados, as pessoas que nascem com esses poderes passaram a ser vistas como monstruosas, são caçadas e maltratadas, assim que seus poderes são descobertos, a menos que se unam ao Fulcro. Uma ordem comanda por guardiões, humanos que possuem controle sobre os orogêneses, treinados no fulcro. Eles aprendem controle de seus poderes, e quanto mais forte e confiáveis são eles vão ganhando anéis que os classificam. O Maximo de poder é dez anéis.

O fato do fulcro estar em Yumenes, é o verdadeiro motivo da cidade ter prosperado tanto, afinal quando acontecem as catástrofes naturais, eles só pela presença conseguem deter que a cidade seja destruída, e assim sendo são utilizados pelos que estão no poder, roubados dos controles de suas próprias vidas de forma sistemáticas.

Tendo esse pano de fundo, o livro vai nos mostrar o fim desse mundo conhecido, enquanto acompanhamos as três personagens protagonistas, Jemisin, escreve uma trama que fala sobre preconceito, sobre a sociedade e suas múltiplas castas e políticas sociais e raciais. Mesmo enquanto estamos imersos nesse mundo de pura fantasia, ela consegue apontar de forma contundente para críticas importantes e para as profundas camadas de cada ser humano. 

Existem outros elementos fantásticos importantes, mas deixarei para vocês lerem, se surpreenderem e também se horrorizarem em alguns momentos com eles.

“... é muito gentil da sua parte. Cuidar dele assim.- ninguém nunca cuida de mim. – então ela fecha a boca com tanta força que seus dentes estalam. Ela não queria dizer isso....- eu vou cuidar. – ele diz e se inclina para beijá-la...”

Definitivamente uma indicação para quem ama ler fantasia, ficção científica, e porque não dizer uma leitura com ar distópico. Com tramas, densas e bem formuladas. Personagens criados com múltiplas camadas de personalidades, tão capazes de terríveis erros como feitos extraordinários e uma cultura criada para fazer sentido apenas a esse mundo em particular. Além de tudo isso, tem no livro algumas das relações de amor e amizade mais adoráveis que li, os personagens acabam nos cativando de uma forma, que nos importamos com seus destinos, suas dores e alegrias.

Este ano tenho lido livros maravilhosos e esse certamente está nos meus favoritos. Já aguardando a leitura dos próximos livros.

Até a próxima, e espero que tenham ótimas experiências ao ler este livro.