O Mapa do Tempo (The Girl From Everywhere, 1) - Heidi Heilig

Título: O Mapa do Tempo (The Girl From Everywhere, 1)
Autor: Heidi Heilig
Páginas: 416
Ano: 2017
Editora: Morro Branco
Gênero: Fantasia
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon
Nota:  

Sinopse: Nix é uma viajante do tempo. Ela e seu pai, Slate, velejam a bordo do Temptation, um navio pirata repleto de tesouros. Ao longo do caminho eles encontram amigos, uma tripulação de refugiados do tempo e até mesmo um charmoso ladrão que pode significar muito mais para Nix. Tudo que Slate precisa é um mapa certo para viajar a qualquer tempo e lugar, real ou imaginário: seja para a China no século 19; terras vindas direto das Mil e Uma Noites ou até mesmo uma mítica versão da África. Apesar das inúmeras possibilidades, o pai de Nix está obcecado com um mapa específico: Honolulu, 1868 – o ano de nascimento de Nix e a última vez em que ele viu sua esposa viva. E, por uma chance de reencontrá-la mais uma vez, Slate está disposto a sacrificar a tudo e a todos. Quando o desejado mapa aparece, Nix vê sua própria existência em perigo e agora deve descobrir o que quer, quem é, e aonde realmente pertence, antes que seu tempo acabe. Para sempre.

Resenha:

Me deparei pela primeira vez com The Girl From Everywhere completamente por acaso. Eu não tinha nenhuma indicação nem referência de ninguém que já tinha lido. Então, se quisesse me arriscar nessa aventura teria que confiar na premissa do livro contada na sinopse. Era arriscado, definitivamente, mas quando eu vi que a história misturava um barco (e como consequência o mar) com viagem no tempo, tive certeza que era uma mistura que merecia a chance de ser lida.

Afinal, fui eu mesma quem disse (aqui nessa resenha inclusive), que gostava de histórias com viajantes do tempo. Elas criam um nó na nossa cabeça e nos fazem ler e reler as mesmas páginas várias vezes, mas eu gosto mesmo assim. E no fundo, no fundo, esse nó é muito bom e ele nos prende ainda mais aquela história, porque mesmo depois que fechamos o livro, ainda permanecemos pensando em como tudo o que aconteceu se liga e faz sentido.

E The Girl From Everywhere faz muito sentido. O livro narra a trajetória de Nix, uma jovem navegadora que não possui tempo nem lugar. Seu pai nasceu em 1981, em Nova York e ela nasceu em 1868, em Honolulu, Havaí. Depois disso, ela nunca mais parou em lugar nenhum, pois seu pai, o capitão do navio e mestre na arte de burlar as areias do tempo, persegue um sonho por entre as várias dimensões temporais. Então, a casa da Nix sempre foi o navio e o mar, e sua família os outros três tripulantes do navio (incluindo seu melhor amigo Kashmir, que eu já shippei com ela desde o começo do livro, me julguem).

Para viajar para uma determinada cidade em um determinado tempo, eles precisam de um mapa daquele lugar com a data para a qual desejam ir. Detalhe, o mesmo mapa não pode ser usado mais de uma vez. Por esse motivo, o pai de Nix viaja em busca de um mapa específico, o do ano em que perdeu sua esposa. Esse é o elemento central do livro e ele traz uma carga sentimental para a história sem tamanho. A única razão para Slate continuar levantando todos os dias, é a esperança de reaver sua amada esposa e nesse ínterim, Nix sente que perdeu o pai para a mãe que ela nunca conheceu. A relação dos dois é extremamente desgastada, assim o conflito pai-filha é explorado no livro de forma intensa e essencial para o enredo.

Uma coisa que eu preciso dizer é que a escrita da autora é de uma delicadeza que transcende a grande maioria dos livros de fantasia que já li. Ela usa figuras de linguagem, desenha cenários singelos deixando as frases leves e inspiradoras. Aqui vai um exemplo só para vocês sentirem o gostinho do que estou falando:

"Palavras surgiam em minha cabeça e desapareciam como algodão-doce na língua. Ontem à noite eu tinha muito a dizer, mas o amanhã virou hoje, e tudo estava diferente"

Vale ressaltar também a construção dos personagens feita pela autora. Pelo fato do livro ser uma fantasia o compromisso dela não é com o desenvolvimento profundo das personalidades. Porém, ela consegue introduzir nos diálogos e ações traços que nos permitem delinear (de uma maneira um pouco mais superficial) aspectos únicos de cada um. E sendo sincera, o livro é tão instigante e tão bom que nem sobra tempo pra ficar pensando em desenvolvimento da personalidade dos personagens. De verdade.

A última coisa que quero falar (senão essa resenha dá outro livro) é a questão da viagem no tempo em si. No começo, a parada de não poder usar o mesmo mapa duas vezes me preocupou. Fiquei com medo da autora colocar uma brecha nessa regra para as coisas poderem dar certo no final e sinceramente, se isso tivesse acontecido, eu teria ficado bem chateada. É muito conveniente dobrar as regras do seu próprio mundo a seu favor. Só que a autora não fez isso. Ela manteve esse elemento até o final e ele inclusive é a razão do desenrolar de alguns eventos importantes para o próximo livro, creio eu.

As distorções temporais, causadas pelas inúmeras viagens feitas pelos viajores do tempo, foram bem elaboradas, mas não são fáceis de entender. Nunca são. Estou esperando para encontrar um livro em que seja. Em um momento específico da história eu precisei desenhar um diagrama para me situar dentro dos acontecimentos. E isso me deixou bem empolgada, por incrível que pareça. O leve romance que tem no livro também me deixou bem empolgada e espero vê-lo mais no segundo.

Chegando ao fim das minhas derradeiras palavras, só me resta dizer um bon voyage e até logo. Nos vemos pelos mares do tempo no “Navio Para Além do Tempo”.