O Livro e a Espada - Antoine Rouaud

Título: O Livro e a Espada
Autor: Antoine Rouaud
Páginas: 400
Ano: 2018
Editora: Arqueiro
Gênero: Fantasia
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon
Nota: 

Sinopse: O general Dun-Cadal foi um dos maiores heróis do Império, mas hoje não passa de uma sombra do que foi, embriagando-se no fundo de uma taberna. Traído pelos companheiros e amargurado pelo desaparecimento de seu jovem aprendiz, Dun-Cadal não quer mais saber de política, batalhas, pessoas. É justamente ali, na taberna escura, que a jovem historiadora Viola vai encontrá-lo. Ela procura a Espada do Imperador, uma relíquia desaparecida no caos da revolução que derrubou a monarquia, teoricamente escondida por Dun-Cadal. Viola também espera descobrir quem é o assassino sem rosto que começou a agir na cidade, matando os antigos companheiros do general, que viraram as costas aos seus ideais para aderir à nova República. Graças à moça, o velho guerreiro vai vasculhar as lembranças de uma vida de glória e seus mais terríveis arrependimentos. À medida que ele conta sua história, os fantasmas do passado vêm à tona, reacendendo antigos rancores e a sede de vingança de um homem que se entregou ao caminho da fúria.

Resenha:

Quando penso em fantasia medieval, as primeiras coisas que vêm à mente são tabernas, cheias de elfos, paladinos, magos, anões, cavaleiros e humanos em um vasto império ameaçado por algum ser mágico (talvez até orcs) em que os heróis partem em uma jornada para salvar o mundo. Talvez seja uma ideia pré-concebida minha? Talvez seja. Ou talvez seja a minha pré-disposição a reconhecer o mundo de Tolkien em tudo do mesmo gênero, mas isso é discussão para outra hora. A verdade é que quando me deparei com O Livro e a Espada, imaginei que fosse ser uma história com esses mesmos elementos e logo me empolguei para começar.

A narrativa começa com Viola, uma historiadora, entrando em uma taberna procurando um certo homem. Neste momento pensei: Viu, o livro já começou em uma taberna, eu estava certa. Mas eu não poderia estar mais errada. O autor introduz diversos elementos que são novos para mim na fantasia. A começar com o fato de Viola usar óculos. Esse pode ser um fato muito pequeno para os outros leitores, mas isso me surpreendeu muito porque até então foram pouquíssimos os personagens que conheci que eram descritos usando óculos. No mundo da literatura a esmagadora maioria tem a visão perfeita. A segunda coisa que me surpreendeu foi o fato da história se passar em uma república democrática proclamada durante a derrocada do império tirano que a precedeu.

Voltemos a Viola, porém. Ela entra na taberna em busca de um homem que diz ter roubado a lendária espada do imperador, Eared, e a escondido. A moça alega que precisa encontrar a espada para levá-la de volta ao museu de história em que trabalha, pois o objeto é uma relíquia para a república e precisa ser encontrada e estudada. Durante a conversa com o homem ela descobre que ele é o grande general Dun-Cadal, responsável por inúmeras vitórias nos tempos do Império. Ele lutava pelos ideais do Império e acreditava com todas as forças no destino que os deuses reservaram para ele. Porém, houve um complô para derrubar o Império que levou consigo não apenas o que Dun-Cadal defendia com unhas e dentes, mas também algo que ele amava muito. Depois disso, ele se perdeu na embriaguez e passou a viver entre tabernas, distante de toda a glória que um dia possuiu.

Ao longo das tentativas de Viola de descobrir onde ele escondeu a espada, a moça (e nós também), vamos descobrindo mais sobre como Dun-Cadal chegou naquela situação e por consequência como ocorreu à proclamação da tão amada república. Nestes devaneios do velho general, conhecemos personagens cruciais para o desenrolar da trama, como Rã, Aladzio, Page, Rogant e Logrid, que também desempenham um papel extremamente importante na história de Dun-Cadal. Assim, a narrativa alterna entre o passado e o presente, ligando os momentos através de alguns recursos literários que eu demorei um pouco para compreender. O autor também dividiu o livro em duas partes e a primeira termina com um plot twist tremendo que me deixou com o queixo caído.

A história escrita pelo autor, apesar de ser uma fantasia deste tipo, envolve muito sentimento. A vida de Dun-Cadal é repleta de momentos emocionantes e o amor descrito no livro é tão bonito quanto complexo. A escrita é genuína então nos momentos de alta emocional, em que determinados diálogos despertavam nos personagens um turbilhão de sentimentos, eu fui levada junto com eles e me vi secando lágrimas. Eu tive raiva e indignação com alguns personagens, fiquei revoltada com várias ações tomadas por eles e várias vezes quis pegar o livro (o Kindle mais especificamente) e jogar na parede. Tinha algum tempo que eu não me envolvia nesse nível com uma história e foi bom sentir isso novamente. Esse foi, inclusive, o fato que mais me surpreendeu. Foram poucas as fantasias medievais que eu já li que trouxeram elementos emocionais com papel crucial na história.

Infelizmente, tem um grande “porém” nisso tudo. A leitura é muito lenta, ela não flui nem é dinâmica. Na primeira parte da história o presente se alterna com o passado de Dun-Cadal e na segunda se alterna com o passado de outro personagem. Então, alguns momentos os mesmos acontecimentos eram narrados, mas de perspectivas distintas. Isso tem tudo para ser um recurso interessante, mas o autor optou por misturar eles com outros momentos que não agregaram à narrativa, ao invés de explicar o background das situações. Então, tinha hora que eu estava super empolgada com o que estava acontecendo, no presente ou no passado, e a leitura estava super fluindo, ao vinha alguma cena ou descrição que quebrava o ritmo da leitura e me tirava da imersão que estava. Reconheço que para muitos, esse é um recurso interessante, mas para mim não funciona muito bem.

Apesar disso, eu gostei muito do mundo criado pelo autor, achei interessante a ligação entre a espada, Eared, e o livro do destino, Liaber Dest, que unia também duas famílias. A ideia da república também é legal, porque discute os ideais que sustentam esse tipo de regime político e me fez questionar (bem rapidamente) sobre a realidade brasileira. Faz alguns apontamentos a respeito do papel das pessoas nesse processo, além da sobreposição da natureza humana sobre o bem estar geral. Dá ênfase também nas lutas anti-imperiais que levaram à queda do Império, e o foco estratégico que normalmente é dado em fantasias medievais divide espaço com o foco político, mesmo que as discussões não sejam tão aprofundadas em nenhum dos dois campos.

Espero ansiosamente pelo lançamento do segundo e também espero que neste o autor possa deixar a história fluir sem interrupções não tão necessárias assim. Eu recomendo a leitura para quem gosta de fantasia e espero que depois venham me contar se concordam ou não comigo. Vai que o problema sou eu e não o livro.