Autor: Antônio Xerxenesky
Páginas: 177
Ano: 2017
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Amazon
Nota:
Sinopse: Alina enxerga sombras e vultos desde criança. Doutoranda em história das religiões, especializada em tradições ocultistas e aferrada à racionalidade que tudo ilumina, ela se acostumou a considerar as aparições como simples vestígios de sonhos interrompidos. Seu próprio emprego numa produtora de vídeo consiste em manipular imagens virtuais de pessoas e coisa gravadas, a rigor não muito distintas dessas ilusões mentais. Certo dia, um telefonema da delegacia desarruma sua rotina de tédio programado. A polícia suspeita de que uma seita vem causando uma onda de surtos psicóticos em São Paulo - pessoas de classe média desaparecidas, sem histórico de distúrbios psiquiátricos, têm sido encontradas nas ruas da cidade, desorientadas como se habitassem um universo à parte. A única pista disponível é um símbolo geométrico desenhado por uma das vítimas. Intrigada e ansiosa para fugir da rotina, Alina decide investigar por conta própria um mistério que a fará questionar os limites entre razão e religião, cultura e crença.
Resenha:
Eu me considero uma leitora eclética. Já li um pouco de quase todos os gêneros durante minha vida literária, por isso já tive experiências bem peculiares com as histórias. Mas, de tudo que já li, foram poucos os livros que me deixaram tão sem explicação como este. Sem explicação porque ele deixa a essência da história completamente em aberto para interpretá-la da maneira como a sua cabeça quiser. E quando eu acabei de ler eu não acreditei, juro. Fiquei boquiaberta com a “vagueza” (neologismo desde sempre) do final. Fiquei aproximadamente 5 minutos olhando para a última página, lendo e relendo as últimas palavras para ver se eu tinha perdido alguma coisa. Pensei, por um momento, que haveria uma continuação. Mas não, essa história não comporta uma continuação. Ela é completa em si mesma. Só depois desse período de leve indignação que eu realmente compreendi a proposta do livro (ou pelo menos eu acho que é a proposta): questionar.
Questionar a realidade, questionar a vida, questionar a decisão de ler o livro, questionar tudo. te garanto que disso você não sairá ileso. Então, vou dizer agora a minha interpretação da história, que é completamente pessoal e intransferível, e os questionamentos que ela me trouxe. Alina é uma mulher formada em história e especializada em história das religiões que trabalha com edição de vídeos, algo que não tem nada a ver com a área de formação dela. Desde criança recebe visitas constantes de sombras que a acordavam com gritos de rasgar a garganta, mas com o passar dos anos a ciência passou por cima da misticidade e ela empacotou as sombras em uma caixa muito bem lacrada dentro de sua cabeça.
Ela vive em São Paulo, mas é do Sul do Brasil. Uma intrusa. Um peixe fora d’agua, em todos os lugares. A cidade, que no começo transbordava novidades e agito, se transformou em um lugar cinza e sem graça. Ela foi engolida pela rotina, pelo monótono, pela falta de esperança. Quase como se desistisse de lutar. Sair da cama cedo e enfrentar um dia inteiro em um cubículo que ela detestava era a sina diária de Alina. Ela, que sempre foi questionadora da realidade e dos valores da sociedade, foi sugada pelo tempo e esqueceu de si mesma no processo. E em meio a isso tudo as sombras e as memórias do convívio com elas ficava cada vez mais reprimida em seu interior.
Eles dizem que é necessário uma turbulência para que muitos levantem e se mexam. Com Alina foi exatamente assim que aconteceu. Um belo dia recebeu o telefonema de uma delegada que alegava precisar do vasto conhecimento de Alina para descobrir mais detalhes sobre uma seita misteriosa que aparentemente havia enlouquecido algumas pessoas pela cidade. Porém, essa seita ocultista também era um mistério para ela então, como deixado claro pela delegada, a história morria ali. Mas, o espírito inquieto de Alina não se contentava com o pouco que havia recebido. Ansiando por fazer algo fora do automático do dia-a-dia ela foi atrás dessa tal seita, para provar com sua ciência que nada não passava de viagens da mente das pessoas.
Assim, Alina se viu novamente em contato com aquelas sombras de seu passado que mudaram radicalmente o modo como ela enxergava a vida até então. Ela questionou todos os seus valores, suas crenças, seus sonhos e principalmente questionou suas memórias, que se desintegravam bem diante de seus olhos. As sombras que ela via (na minha interpretação) não passavam de artifícios que o universo encontrou para fazer com que ela voltasse a questionar a realidade. Era uma forma dela se conectar novamente com seu interior, ver as sombras que existiam dentro dela e compreender que no fim, precisava conviver com elas. Todos nós temos nossas sombras, que se encarregam de nos assustar de vez em quando para colocarmos nosso carro de volta nos trilhos.
Em determinado momento da história, Alina passa por um momento de intenso questionamento e divaga, por meio de várias perguntas, sobre as crenças que regem o Universo. Ela fala de Deus, de ciência, de energia, de tudo. Desafia seus conhecimentos e coloca a prova suas ideias. São dúvidas que muitas pessoas encontram no meio do caminho. Será que eu estou sozinho? Por minha conta? Sou apenas um nada em meio à vastidão do universo. Então qual o sentido da vida? São essas e outras perguntas que ela se faz, perdida no momento de incerteza e confusão que se encontra. Para mim, foi este “monólogo” que clareou a essência do livro e que fez com que eu me surpreendesse com a história.
Confesso que no começo tive dificuldades. Principalmente por causa das frases muito grandes. Por vezes um parágrafo inteiro tinha apenas uma frase, sem um ponto que seja. Isso fez a leitura correr muito rapidamente e sinto que posso ter perdido algo no meio do caminho. À medida que o livro avançou eu fui me acostumando, mas senti que a história foi narrada em um ritmo que eu não conseguia acompanhar. Fato que me bloqueou de me envolver com a narrativa e com a personagem.
Apesar disso, muitas coisas me chamaram atenção. A principal delas (de fato algo que gosto bastante) é a narrativa psicológica. Sim, os fatos e acontecimentos eram importantes, mas o sentimento por trás deles ganhava muito mais visibilidade. É possível traçar, ao final da leitura, um desenho da personalidade de Alina com precisão e veracidade. Apesar das dificuldades de me envolver com a história fui levada a questionar muito do que eu acredito pelas dúvidas de Alina. Tive contato com uma realidade, através da dela, que me ensinou muito sobre a minha.
Como disse lá no começo, essa é a minha interpretação da história. Meu jeito de ver as sombras da vida e da cidade, meu jeito de enxergar a força que nos leva a mudar. O mais interessante de tudo é que acredito muito que esse livro é daqueles que adquire um significado diferente de acordo com a época da sua vida e com o que você está vivendo. Ele se molda ao seu momento, ao seu tempo. E isso, é de tirar o chapéu. Para quem gosta de histórias que o leitor constrói junto com o narrador e com o escritor, que o leitor colabora para o desenrolar da trama, eu recomendo As Perguntas. Vá certo de que você começará com muitas, mas terminará com mais ainda.
Acho interessante quando um livro deixa a gente fazendo mais perguntas do que tendo respostas. Quando o objetivo é questionar. Dependendo de como as coisas são feitas pode ser legal, mesmo que dê aquela dose de indignação xD
ResponderExcluirEu gosto. Se me fizer pensar vale a pena.
Tem algumas coisas ali que poderiam me fazer empacar na hora da leitura, o ritmo e jeito da narrativa me pareceu um tanto complicado até acostumar. Mas não que isso seja ruim no fim das contas. O livro parece ter um cuidado legal com sentimentos, passa isso e gosto de narrativas que trazem alguma coisa assim, que fazem a gente sentir ou ver bastante dos sentimentos nela. Não parece um livro fácil, a gente tem que interpretar e prestar atenção no que pode tirar dele, mas também não parece ruim. Seria um desses livros que leio na sorte e quem sabe pode ser surpreendente no fim das contas né...
Achei o livro muito interessante, gosto de livros que fazem voce questionar o mundo, a vida ou o porque algo ser daqueli jeito. Mais nao suporto livro com finais abertos, eles me irritam muito. Porque no final eu quero uma resposta concreta e nao um "pense no que aconteceu".
ResponderExcluirOi Maíra.
ResponderExcluirQue preguiça mais intrigante essa é a primeira vez que vejo falar do livro porém já estou encantada eu adoro que a esse questionamento sobre tudo sobre religião sobre ciências sobre energia, enfim tudo, e isso é demais.
Eu adoro que depois de uma turbulência ela realmente acordou para a vida, isso é bem eu rsrs.
Bjs.
Olá, eu geralmente fico frustrado quando os livros terminam com um final vago e não possuem uma continuação. Mas nessa obra parece que essa modalidade literário é a mais adequada, cabendo ao leitor construir uma conclusão. Beijos.
ResponderExcluirAcho que esse não é um livro para mim, odeio livros que deixam o final um pouco aberto, e só de saber que esse livro deixa muita coisa em abeto, já imagino que não vou gostar nada dele. Pela sua interpretação, a história parece ser muito interessante e muito boa, mas acho que nem vou me arriscar a ler :P
ResponderExcluirBeijos!
Olá!
ResponderExcluirGostei do livro, tem uma premissa muito boa. A trama é algo bem complexo, mostra uma historia que envolve coisas que podemos nos identificar em nossa vida, em nosso momento e isso é algo muito incrível de ver em livros. Eu estou já curiosa para conhecer essa trama!
Olá Maíra! Livros com essa pegada mais psicológica vem permeando o cenário literário não é? E inclusive o nacional agora! Ao começar a ler a resenha pensei que se trataria de algo negativo mas no decorrer da leitura percebi que o livro é muito importante para criar reflexões sobre a vida. Estou na dúvida se encaro a leitura ou não. Beijos
ResponderExcluirMaíra!
ResponderExcluirNão li o livro, mas posso tirar minhas conclusões através de sua análise e do próprio título do livro... Acredto que o autor quis que o leitor divagasse não apenas nos questionamentos, mas percebece o estavo psicológico e os conflitos interiores da protagosnita, fazendo com que reflita (o leitor) sobre tudo, o que a meu ver, traz um livro com fundamentos filosóficos e questionares.
Um final de semana alegre e feliz!
“Não há nada que faça um homem suspeitar tanto como o fato de saber pouco.” (Francis Bacon)
Cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA DE OUTUBRO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
Ainda não li nem um livro do autor Antônio Xerxenesky, eu não costumo
ResponderExcluirmuito ler livros do estilo deste, em que o autor deixa a essência da história em aberto, para o leitor interpretar da maneira que quiser, não sei se isto me agradaria neste livro, mas após ler sua resenha acabei ficando curiosa para conferir esta história, então adicionei As Perguntas em minha lista de leituras.
Oi Maíra.
ResponderExcluirAinda não li nada desse autor, mas parece ser bem interessante.
Acho que eu ficaria bem abismada com esse final tão aberto e possível de diversas interpretações.
Não gosto muito de livros que falam sobre religião, então não sei se vou ler esse livro.
Quanto as frases enormes, me lembra os livros de José Saramago. Depois de um tempo se acostuma.
Bjs
Pelo visto o título do livro combina muito bem com o conteúdo dele, gosto bastante de livros que nos fazem questionar as coisas, mas entrei em um impasse quanto a ele exatamente pelo fato de gostar de livros assim mas odiar livros em que o final fica em aberto, também acho que livros assim se moldam ao que você está vivendo no momento, mas acho que ainda não é o momento de eu lê-lo.
ResponderExcluirBeijos!
Olá! Uma das coisas que mais prezo na leitura é o quanto ela nos agrega de bagagem cultural, emocional, o quanto ela nos ensina e nos modifica. E parece que esse livro fez exatamente isso com você, te incomodou num primeiro momento, te fez questionar, até que você entendesse e tirasse suas próprias conclusões. Que ótima leitura deve ter sido!
ResponderExcluirBeijos.
Olá. Que interessante esse livro que nos faz questionar a nós mesmos, meio que nos força a nos entender melhor. Adorei a premissa dele. Me lembrou O Pequeno Principe, em que todas as vezes que o li tive uma interpretação diferente a respeito dele.
ResponderExcluirOi, Maíra!!
ResponderExcluirAcho que nunca ouvi falar desse estória antes, mas sem dúvida é um livro bem interessante! Não sei se leria agora mas é uma excelente estória!
Bjoss
ooi!
ResponderExcluirnão conhecia a obra mas já que disse que a proposta (pelo menos na sua perspectiva) é questionar tudo e a todos o livro se torna bastante interessante