Rosshalde - Herman Hesse

22 de março de 2017

Autor: Herman Hesse
Páginas:184
Ano: 1965
Editora: Civilização Brasileira
Gênero: Romance
Adicione: Skoob
Onde Comprar: Livraria Cultura
Nota:              
Sinopse: Rosshalde é a clássica história de um homem dividido entre as obrigações com a sua família e seu desejo por uma satisfação espiritual que só pode ser encontrada fora do círculo da sociedade convencional. Johann Veraguth, um rico e bem sucedido artista, é um estranho para sua mulher e se sente sufocado pela união infeliz. O amor dele pelo seu filho mais novo e seu medo do desamparo o mantém ligado às paredes de sua grandiosa propriedade, Rosshalde. Quando uma tragédia inesperada assola sua casa, Veraguth finalmente encontra a coragem para deixar a segurança desolada de Rosshalde e viajar para a Índia, a fim de se descobrir novamente.


Resenha:

Rosshalde é uma casa que presenciou muita história. É uma casa que se pudesse falar, diria a todos a melancolia e a tristeza que pairava no ar, diria sobre os belos jardins, sobre as flores coloridas e falaria da família dividida que lá morava. Johann Veraguth é um homem que vive isolado em sua sua própria casa e leva a vida como se estivesse dormindo e um dia acordaria para ver tudo diferente e como sempre sonhou. Sua esposa, que há muito deixou de ter qualquer relação com ele, vive na casa grande enquanto Veraguth mora em um pequeno “puxadinho” (na falta de um termo melhor) nos fundos da propriedade. Ela já perdeu o sentido da vida e se contenta com a realidade medíocre em que está inserida. Os personagens desse livro tem essa característica marcante, são conformados com a situação e não movem uma palha para tornar a vida mais agradável e feliz.

No meio da animosidade entre o casal, está o filho mais novo deles, Pierre, que é alvo de disputa dos pais. Cada qual quer levar o garoto para o seu lado, mimá-lo para que ele escolha seu favorito. Mas o que eles não percebem é que essa disputa doentia afeta a cabeça de uma criança em níveis grandiosos e traumatizam a infância. O garoto não vê a corrida pelo seu afeto como uma demonstração de amor dos pais e por isso é atacado por angústias e moléstias nada condizentes com sua idade.

Por muitos anos eles viveram assim, encontrando-se ocasionalmente, como estranhos em uma mesma casa.  Veraguth se afundou profundamente ao longo do tempo e seu amor pelo seu filho e pela pintura foram as duas coisas que não o deixaram se perder por completo. Como um pintor famoso, ele tinha as obrigações do ofício e por isso passava dias e dias fechado em seu estúdio pintando. Era uma das únicas coisas na vida que ainda o davam alegria e conforto. Ele pintava e repintava o mundo quantas vezes fossem necessárias para se preencher e acabar com o isolamento que sua alma era submetida.

Até que uma certa vez, uma amigo de infância foi visitá-lo e, assustado com a situação deplorável que o companheiro de tantas primaveras felizes vivia, o alerta e aconselha, dando um banho libertador de quaisquer vestígios do passado e convida-o a passar uma temporada fora na Índia, onde agora residia. Veraguth, tentado a aceitar o convite e agora ciente do drama que sua vida havia se transformado, rompe a “funda e poderosa hipnose da resignação em que tinha caído” e busca nos meses que antecedem sua viagem se reconciliar com aqueles que um dia fizeram parte de sua família. Assim, causando estranhamento em sua mulher e seu seu filho mais velho, muda o jeito de tratá-los e finalmente se vê tão perto da liberdade que a tanto almejava. Porém, essa liberdade vem com um preço, o afastamento de seu filho querido, a única pessoa que ele verdadeiramente amou na vida.

O livro tem um ar melancólico e bucólico que te transporta para dentro de você mesmo. Apesar da narrativa demorada e pouco fluida, as reflexões apresentadas são aspectos da natureza humana que todos nós lidamos com eles alguma vez na vida e por isso nos fazem refletir bastante sobre nossa própria existência. É um romance que trata do universo fechado em que vivemos e trata, com muita veracidade, do mistério que assola as almas dos artistas, que inconformadas e isoladas, buscam recriar seu mundo, na ânsia de superação e de vida.

De certo que não é uma leitura simples e tranquila, é muito densa, cheia de complexidades, metáforas e divagações que intensificam a história. Não adianta ler sem refletir e muitas vezes me peguei voltando em determinados trechos para conseguir absorver tudo que ele me apresentava e compreender o rumo que a história levava. Essa história traz discussões que dão pano para manga e ficaríamos horas e horas conversando sobre elas. Herman Hesse discute filosofia no retrato de um artista e sua obra trata do arrependimento e do tempo, nosso companheiro de tantos carnavais, que prega tantas peças e engana os homens sem que eles percebam.


Postei essa resenha aqui também :)

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